INTERAÇÕES ENTRE O USO DE RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E ALIMENTÍCIOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO BIOCULTURAL
Pesquisa Realizada por: Roberta de Almeida Caetano
Ano: 2021
Linha: Conservação manejo e uso sustentável de fauna e flora
Bioma: Mata Atlântica
Nível Acadêmico: Doutorado
As plantas lenhosas podem apresentar múltiplos usos, como alimentício e madeireiro. É conhecida a comum característica da dependência sobre esses recursos vegetais e a notável distinção em termos da sustentabilidade do uso desses recursos pelas populações locais, principalmente das que vivem em países mais pobres. A esse respeito, os usos madeireiros são indicados na literatura como os que provocam maiores impactos nas populações vegetais em relação a outros usos, como o alimentício.
Os usos madeireiros costumam ser considerados generalistas. Para usos generalistas há outras opções igualmente vantajosas, o que permitiria que as pessoas poupassem certas espécies vegetais para usos dos quais dificilmente há equivalentes para substituição (espécies de usos especializados, como as alimentícias). Considerando que a alta importância no uso alimentício, pode levar a formas de manejo que beneficiam essas espécies, como a tolerância, proteção e promoção, além do seu caráter especializado, é possível que o uso alimentício, tenha um efeito protetivo sobre usos mais destrutivos como os usos madeireiros.
Tendo em vista essas premissas, a partir desta pesquisa testaremos se espécies de alta importância alimentícia (em termos de subsistência e comercial) são menos utilizadas para fins madeireiros do que seria esperado, considerando a sua qualidade e disponibilidade percebidas. Também avaliaremos o impacto ecológico desses usos na estrutura da vegetação e o que isso pode estar causando em termos de conservação biológica e cultural em uma comunidade de extrativistas, localizada numa área de restinga de Mata Atlântica, situada no entorno da APA da Marituba do Peixe, em Piaçabuçu – AL. Para isso, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com os extrativistas locais, além do estudo fitossociológico dessas plantas.
Essa pesquisa é importante porque visa contribuir de forma teórica e prática ao: 1) fornecer evidências sobre a interação de usos como um modelo interessante para o entendimento dos processos de seleção, uso e manejo dos recursos vegetais pelas populações locais; 2) contribuir para conservação biocultural das espécies vegetais, propondo estratégias que incluam a valorização do potencial alimentício da biodiversidade vegetal local; 3) fornecer argumentos favoráveis ao extrativismo sustentável de plantas alimentícias silvestres; e 4) direcionar estratégias de conservação para o público-alvo, a partir da identificação do perfil socioeconômico dos principais usuários, os usos que causam maior impacto ecológico na vegetação e as espécies vegetais que sofrem maior pressão de uso, indicando as prioritárias para a conservação.
Biografia:
Sou graduada em Ciências Biológicas - Licenciatura pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e mestra em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Atualmente estou cursando doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos - ICBS/UFAL. Nesta instituição, integro o Laboratório de Ecologia, Conservação e Evolução Biocultural (LECEB).
Durante a minha trajetória acadêmica, tenho me interessado em desenvolver pesquisas em ecossistemas com a biodiversidade ameaçada, tais como a Caatinga e a Mata Atlântica, a partir de abordagens etnobiológicas. Ao longo da graduação e mestrado busquei entender os critérios locais de seleção e uso de recursos vegetais em comunidades locais situadas em unidades de conservação, em municípios de Alagoas e Pernambuco, considerando plantas medicinais e plantas forrageiras como modelos.
Com a pesquisa de doutorado, meu principal interesse é entender sobre o efeito protetivo nos sistemas socioecológicos, proveniente da interação entre usos especializados e usos generalistas e danosos, utilizando como modelo plantas lenhosas para fins alimentícios (usos especializados) e madeireiros (usos generalistas) com importância doméstica e/ou comercial, bem como o impacto ecológico desses usos na estrutura da vegetação e suas implicações para a conservação biocultural.