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Tesouro verde
Com o desafio de investigar os benefícios que as 1.580 unidades de conservação trazem ao país, uma rede de ONGs nacionais e internacionais apoiou o estudo “Quanto vale o verde: a importância econômica das Unidades de Conservação brasileiras”. Lançado durante a 9ª edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que ocorreu em Florianópolis (SC) entre 31/07 e 02/08, o estudo contou com a parceria do Ministério do Meio Ambiente e do ICMBio, e foi financiado pelo Funbio, Conservação Internacional (CI), WWF, SOS Mata Atlântica, Imaflora, Fundação O Boticário, Rede Pró-UCs e The Nature Conservancy.
Mensurar como as UCs impactam a realidade socioeconômica do país é uma tarefa complexa. Afinal, nem tudo pode ser traduzido em cifras. Enquanto o volume de açaí produzido por uma Reserva Extrativista pode ser calculado em reais, por exemplo, a manutenção da biodiversidade em uma Estação Ecológica não encontra correspondência monetária direta. Por outro lado, proteger um ecossistema significa conservar o solo e a vegetação nativa, fundamentais para a manutenção dos recursos hídricos. Consequentemente, as atividades humanas que dependem destes recursos, como o abastecimento, hidroeletricidade e irrigação, também ficam asseguradas.
Segundo o levantamento, realizado pela CI e a UFRJ, o retorno socioeconômico das UCs, tanto na forma de serviços ecossistêmicos quanto na receita gerada pelas atividades, superou os recursos públicos alocados para mantê-las. O bioma Amazônia responde por 75% do total da cobertura de UCs no Brasil, totalizando 120 milhões de hectares. E as UCs do ARPA ganharam protagonismo no estudo, principalmente nas frentes de extrativismo e conservação de carbono.
Extrativismo
Os autores identificaram que, apenas nas unidades do ARPA, são produzidos 46% de peixes, 46% de camarão, 27% de caranguejo, 15% de açaí, 19% de castanha-do-pará e 15% de borracha do total gerado pelas UCs brasileiras. O valor econômico da exploração destes produtos chega a R$ 81,3 milhões ao ano, ou seja, 36% do potencial estimado para as UCs no Brasil.
O destaque de maior potencial de contribuição econômica no extrativismo de pesca ficou com as Resex Maracanã (PA) e Cururupu (MA), cada uma gerando uma receita estimada em R$ 14,3 milhões e R$ 10,1 milhões anuais, respectivamente. Dentre as UCs com maior vocação para produtos florestais não madeireiros estão a Resex Chico Mendes, com R$ 5,4 milhões anuais de receita, seguida pela Resex Cazumbá-Iracema, com R$ 2,9 milhões anuais. Ambas ficam no Acre.
A este retorno financeiro somam-se, ainda, os benefícios sociais para as comunidades que atuam nas atividades de extração e que habitam o entorno das UCs, como segurança alimentar e financeira.
Conservação de carbono
A mudança no uso da terra é tida como a principal causadora de emissão de gases de efeito estufa no Brasil e, segundo os autores, respondeu por 62% do total de emissões registradas entre 1990 e 2016. Por esse motivo, conservar as áreas de vegetação nativa significa evitar a emissão de dióxido de carbono advindas do desmatamento. As UCs apoiadas pelo programa ARPA contribuíram para proteger 7 milhões de hectares, ou seja, 4,6 Gt CO2 de carbono florestal foram conservados em vez de serem liberados na atmosfera. O valor representa cerca de 43,6% do total de estoque de carbono florestal conservado nas UCs do país.
Considerando o preço de USD 3,80 para cada tonelada de carbono e aplicando uma taxa de câmbio de R$ 3,25/USD, os autores chegaram a um valor de R$ 56,6 bilhões, referente ao estoque de carbono conservado pelas UCs do ARPA. Deste total, cerca R$ 35,6 bilhões provêm das UCs de proteção integral e R$ 21 bilhões daquelas de uso sustentável.
A mensagem do estudo é clara: não somente as UCs já existentes precisam ser mantidas como a ampliação de áreas protegidas no país continua sendo necessária.
Você pode conferir a versão em PDF do estudo aqui.