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No sertão, um projeto transforma famílias e vida de mulheres
O dia amanhece, o campo espera. Às 7 da manhã, abraça os filhos e sai para trabalhar: colhe o umbu, de cuja polpa são feitos doces, sucos e a umbuzada (bebida típica da Caatinga, preparada com leite e açúcar). Colhe a aroeira, da qua é feito sabonete fitoterápico. A venda desses produtos trará a receita que ajuda a manter a casa. Ao final do dia, lá pelas 18 horas, chega em casa e sorri ao reencontrar os filhos. A rotina, que no sertão seria tipicamente masculina, é na verdade o dia-a-dia da Vilzoneide Batista, de 43 anos, produtora que faz parte do projeto Sertão Mulher, da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, em Pernambuco.
A rede tem o apoio do Tropical Forest Conservation Act (TFCA), do qual o Funbio é a secretaria executiva. Ela e mais 450 agricultoras quase dobraram, em 11 meses, o faturamento, que pulou de R$ 500 para cerca de R$ 900 com a comercialização de derivados da polpa do umbu e da semente da aroeira. Vilzoneide se orgulha do que conquistou:
“Posso sair para colher e comercializar o produto, pois sei que ao voltar encontrarei minha casa e meus filhos bem. Meu marido divide comigo o tempo com os filho. Isso me fortalece como mulher e empreendedora. Com o aumento da renda posso comprar o que quero com meu próprio dinheiro, sem esperar pelo meu marido”.
Esta realidade, inimaginável há alguns anos, vem mudando graças à contribuição da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú que começou pequena em 2007, com apenas 50 participantes. “As mulheres não tinham voz nas decisões no campo”, conta Elizabete Nobre, Educadora social. Ela e outras líderes do projeto bateram de casa em casa para conversar com os maridos e fazê-los aceitar a participação das mulheres no campo e na venda dos produtos. “Eles entendem quando chega um saco de cimento comprado com o dinheiro das mulheres”, diz Elizabete.
Deu certo. Hoje, a rede conta com mais de 400 coletoras que transformaram o subaproveitado umbu em motor de transformação. Pouco utilizado pelos homens, o fruto hoje representa cerca de 60% da renda das mulheres.
Em pouco tempo o projeto cresceu consideravelmente, assim com a participação das mulheres nas cerca de 20 associações da região. “Para a instituição, o apoio do TFCA é de grande importância. Tem contribuído significativamente nos processos de formações das mulheres. Nos mantém articuladas e mobilizadas para que permaneça acesa a chama da luta feminina na conquista de direitos por um mundo justo e solidário entre homens e mulheres”, diz Elizabete.