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Comunidades pela conservação
Tímida que só, Odenilze Ramos, de 19 anos, era do tipo que se escondia atrás dos colegas quando tinha que apresentar trabalho na escola. Mas isso ficou no passado: hoje cheia de desenvoltura, Odenilze passou a assumir a dianteira na produção de vídeos, fotos e textos sobre a realidade onde vive, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, no Amazonas. Virou uma repórter da floresta. “O projeto Jovens Protagonistas mudou minha vida. Fui perdendo a timidez de falar em público e comecei a me envolver com todas as comunidades da reserva”, conta, esbanjando autoestima.
Nos últimos cinco anos, o ARPA repartiu quase R$ 6 milhões entre 29 propostas de integração comunitária em unidades de conservação. Apostando no fortalecimento das comunidades e na gestão participativa como um trampolim para a consolidação dessas áreas, o programa abriu três editais e recebeu uma chuva de projetos.
Um deles veio da RDS do Rio Negro, pelas mãos do gestor Pablo Pacheco. Ele já tinha ouvido maravilhas sobre uma metodologia de capacitação de jovens chamada Verde Perto. Criada sob o tripé do protagonismo juvenil, da educação lúdica e da transdisciplinaridade, ela vem sendo aplicada em áreas protegidas do Brasil desde 2011. Pablo correu atrás da referência teórica, escreveu um Plano de Ação Sustentável (PAS) e levou R$ 206 mil para tentar botar os jovens na linha de frente da RDS.
No início, não foi fácil convencer a molecada a trocar o futebol pelas reuniões de formação. Mas o dinamismo e a forma lúdica como o processo foi conduzido acabou cativando a turma: foram mais de 200 jovens mergulhando em sete encontros e em quase 20 intercâmbios com outras unidades de conservação Brasil adentro.
“Com os jovens se interessando, os pais também se aproximaram e começamos a fazer um trabalho real de integração entre as lideranças mais velhas e aquelas que estavam começando a nascer”, diz Pablo Pacheco. E a ex-tímida Odenilze reforça: “Antes diziam que os jovens não participavam de nada. Hoje, nos colocamos como protagonistas”.
Prova disso é que após o processo de capacitação, o Conselho Deliberativo da unidade resolveu abrir três vagas permanentes para os jovens da RDS. A garotada também ocupou cadeiras na vice-presidência das associações comunitárias, na tesouraria, nas universidades e até na “Visão de Futuro” da RDS, descrita no plano de gestão da unidade.
Fortalecer as comunidades que estão dentro das UCs é fundamental. Mas esticar o olhar para fora também convém, especialmente quando as áreas protegidas raspam seus limites em territórios indígenas. Em vez de conflitos, a vizinhança entre essas diferentes comunidades tradicionais pode potencializar parcerias pela conservação. “É estratégico proteger o entorno das UCs. Conseguir trazer outras comunidades para o seu lado acaba gerando uma situação de ganha-ganha”, diz Marco Bueno, do Ministério do Meio Ambiente.
Apostando nisso, os editais de integração comunitária do ARPA também apoiaram cinco projetos focados na articulação entre extrativistas e povos indígenas, por meio dos chamados Plano de Ação dos Povos Indígenas (PPI). Os trabalhos foram realizados em unidades de conservação do Maranhão, Pará, Tocantins, Roraima e Acre.
Rodeada por Terras Indígenas, a Reserva Extrativista do Xingu foi uma das contempladas. Os recursos que chegaram permitiram vários encontros entre comunidades tradicionais vizinhas que nunca haviam apertado as mãos no Médio Xingu. Indígenas visitaram a Resex e ribeirinhos conheceram territórios como dos Araweté e dos Parakanã. A intensa troca de saberes fortaleceu relações, rendeu uma feira conjunta entre mais de 10 povos e motivou uma ação coletiva para proteger a única área de reprodução de tartarugas da região.
As experiências mostram que o envolvimento das populações locais é fundamental para a conservação da biodiversidade. Até o início dos editais, os investimentos que o ARPA fazia em participação comunitária se limitavam às atividades dos conselhos gestores. Agora, entrando em sua terceira fase, o programa já assegura recursos para que as unidades de conservação incluam em seus planos operativos atividades de fortalecimento comunitário. “O que antes eram projetos curtos agora são ações continuadas, com recursos de longo prazo”, diz Marco Bueno, do MMA. “O trabalho precisa continuar”.