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Nichos e oportunidades
Em 1994, Larissa Rosa de Oliveira era a única mulher integrante do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (GEMARS), que foi criado por cinco estudantes de biologia, em 1991. Em 2017, ela foi convidada para falar no workshop Women in marine mammal science: Breaking down barriers to success (Mulheres e a pesquisa de mamíferos marinhos: Derrubando barreiras para o sucesso, numa tradução livre), no Canadá, parte de um dos mais importantes encontros globais sobre o tema. Foi quando se deu conta das questões de gênero que envolvem sua área de atuação. E de como é possível gerar, na adversidade, uma oportunidade de atuação.
“Durante os primeiros anos da minha carreira e ainda hoje, descobri que existiam atividades na pesquisa de mamíferos marinhos que eram
logisticamente difíceis de serem realizadas por mulheres. Um exemplo é o monitoramento embarcado das capturas acidentais de pequenos cetáceos na pesca artesanal no Rio Grande do Sul. Dependendo da época do ano, os pescadores passam dias em pequenas embarcações, sem acomodações ou banheiros separados. Não há tampouco o hábito/treinamento de conviver com pesquisadoras. Desde 1994, quando ingressei no GEMARS, apenas acompanhava o desembarque e coletava dados no porto. Decidi buscar o meu ‘nicho’ de outro modo”, diz Larissa, da equipe do Projeto Toninhas, o mais completo estudo coordenado já feito no Brasil sobre o golfinho mais ameaçado da costa brasileira (Clique aqui para saber mais sobre o Projeto Toninhas).
Ela partiu para o estudo de animais mortos e encalhados no litoral, desde a análise da dieta até sua anatomia, além de realizar seu primeiro estágio internacional no Peru, onde trabalhou com o comportamento dos lobos-marinhos vivos e a análise de seu DNA. Apesar de a captura desses animais exigir técnica e força física, não havia restrição à atuação de mulheres. Do trabalho voluntário surgiu uma pesquisa que levou à descoberta de uma nova espécie de lobo-marinho no Peru.
“As dificuldades do episódio inicial da minha carreira só me fizeram ‘focar’ mais nos meus objetivos como pesquisadora, sempre pensando nos nichos alternativos possíveis. Um pouco como o que acontece hoje em dia quando buscamos o espaço de trabalho durante a crise”, diz ela.