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Voluntários são capacitados para prevenção e combate a incêndios florestais no Pantanal
A intensidade e gravidade dos incêndios no Pantanal em anos recentes levou diferentes organizações que atuam no bioma a promover a formação e a capacitação de brigadas – ou redes de pessoas voluntárias – para atuar na prevenção e no combate a incêndios florestais. Projetos que recebem o apoio do GEF Terrestre reforçam o movimento.
Os incêndios de 2020 e 2021 no Pantanal acarretaram em perdas à vegetação nativa. Em 2020, mais de 26% do território pantaneiro foi consumido pelo fogo, atingindo especialmente os municípios mato-grossenses de Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres e a porção sul da Serra do Amolar. No ano passado, 12,6% do bioma acabou consumido pelas chamas, principalmente nos municípios de Corumbá, Miranda e Aquidauana, ambos no Mato Grosso do Sul. Os incêndios serviram como alerta para autoridades, órgãos públicos e privados, organizações não governamentais e a população local.
Por intermédio do projeto Recuperação de áreas degradadas na Reserva Biológica (Rebio) Municipal Marechal Cândido Mariano Rondon e formação de brigadas comunitárias, a Fundação Neotrópica do Brasil (FNB) realizou, em julho, um curso para a formação da brigada Cândido Mariano de prevenção e combate a incêndios florestais na unidade de conservação (UC) e entorno, em Miranda (MS).
Em 2021, mais de 25 mil hectares de áreas de Cerrado no município foram consumidos pelos incêndios. Com grande parte do território na bacia pantaneira, Miranda tem áreas remanescentes do bioma cerratense em corredores ecológicos e zonas de Mata Atlântica, o que indica sua importância para a conservação da biodiversidade e de ecossistemas locais. Equipes do Corpo de Bombeiros, do Prevfogo/Ibama e voluntários se espalharam pelo território municipal para combater os focos de fogo. A Rebio ficou no meio da área que queimava.
“Vimos que pegaria fogo nas 30 mil mudas nativas que tínhamos plantado na UC. Tentamos proteger com uma equipe pequena, mas não conseguimos. Sobrou pouco mais de 25% do que restauramos”, recorda o gestor ambiental Rodolfo Portela Souza, superintendente-executivo da FNB. Parte do plantio teve financiamento do projeto Recuperação de áreas degradadas na Rebio Municipal Marechal Cândido Mariano Rondon, que é implementado pela FNB e tem o apoio do GEF Terrestre.
No combate ao incêndio, surgiu a ideia de constituir a primeira brigada voluntária municipal. “A oportunidade mostrou que era precária nossa estratégia municipal de prevenção a incêndios florestais. Não tinha plano de contingência, por exemplo. E tínhamos equipamento, mas faltava gente capacitada”, destaca Souza.
O curso que formou a brigada Cândido Mariano consistiu em aulas teóricas e práticas sobre prevenção e contenção de focos de incêndio e atividades de manutenção em áreas de plantio. Hoje, a brigada é formada por 15 brigadistas. Todos também possuem certificados do Prevfogo/Ibama e do corpo de bombeiros.
“Meu interesse de fazer parte de uma brigada é antigo. Estou com 55 anos e provei que ainda sou capaz de contribuir muito com o meio ambiente. Não só combater o fogo, mas também prevenir incêndio”, relata Aparecido Amarilha, brigadista e funcionário de empresa privada, que participou do curso de formação da brigada.
A capacitação foi realizada em parceria entre a FNB, a Prefeitura Municipal de Miranda, o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema), o Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul – Batalhão de Aquidauana e o Prevfogo/Ibama.
A atividade de formação da brigada de prevenção e combate a incêndios florestais na Rebio foi seguida, em agosto, de oficina de manejo integrado do fogo (MIF). Os brigadistas participaram de palestras sobre ecologia do fogo, identificação das principais formas de manejo integrado do fogo e prevenção a incêndios florestais. A ideia é que atuem como multiplicadores em suas comunidades.
Recentemente, a FNB lançou material informativo sobre o uso do fogo e incêndios florestais, que está disponível no formato digital para que possa ser usado também por outras organizações interessadas.
A brigada também recebeu uniformes padronizados de combate a incêndios florestais, coturnos, equipamentos de proteção individual (EPI) e para combate ao fogo, como sopradores, abafadores e bombas costais. “A identidade visual para a brigada é uma forma de apropriação e pertencimento para que, depois do projeto, ande por conta própria”, diz Souza.
Prevenção e combate a incêndios florestais na RPPN SESC Pantanal
Em 2020, os incêndios no Pantanal queimaram mais de 90% do território da RPPN SESC Pantanal, em Barão de Melgaço (MT). A UC é a maior reserva particular do país, com 108 mil hectares de área, o que equivale a 108 mil campos de futebol. Pela importância para a conservação da biodiversidade, a UC é reconhecida internacionalmente como Sítio Ramsar e Zona Núcleo da Reserva da Biosfera do Pantanal. No incêndio, a gestão da UC teve o apoio de brigadistas voluntários e contratados para o combate ao fogo.
A degradação motivou organizações parceiras a elaborarem propostas de recuperação das áreas, de prevenção e de combate a futuros incêndios. Por meio do projeto RPPN SESC Pantanal – Recuperando e Protegendo, é feita a revisão do plano de prevenção e combate a incêndios florestais, no qual se adota a estratégia de MIF, tendo como base um roteiro desenvolvido e publicado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2022. O fogo controlado tem o potencial de consumir material orgânico e, consequentemente, de ser um grande aliado na prevenção a incêndios.
“É um trabalho inédito em relação à reserva particular. Será a primeira UC privada a usar o roteiro do ICMBio. Depois de visitas técnicas e reuniões presenciais e virtuais, está em fase avançada de elaboração. A versão preliminar será apresentada para o conselho da reserva, em dezembro”, aponta o engenheiro florestal Cesar Victor do Espírito Santo, coordenador-geral do projeto pela Fundação Pró-Natureza (Funatura).
Outras ações de prevenção e combate a incêndios são desenvolvidas pelo projeto. Uma delas é a realização de capacitações em localidades ribeirinhas ao longo do rio Cuiabá, no limite da RPPN. Já foram realizadas capacitações em 4 comunidades ribeirinhas sobre técnicas de combate ao fogo entre maio e julho. Um total de 60 pessoas foram treinadas até agora. Cinco delas foram capacitadas como pontos-focais nas comunidades. Equipamentos de EPI e materiais de combate ao fogo, como abafadores, foram doados.
Além das capacitações, foi criada, em maio, a Rede de Agentes Voluntários contra Incêndios no Pantanal pela gestão da RPPN em conjunto com a Funatura e em parceria com o Corpo de Bombeiros do Mato Grosso e a SOS Pantanal. A rede envolve agentes comunitários de diferentes localidades (ribeirinhos, comunidades vizinhas à RPPN), que estão em comunicação permanente com a gestão da reserva particular e os bombeiros. Um grupo, em aplicativo de mensagens, funciona exclusivamente para a comunicação de fatos relacionados a incêndios. A rede tem o potencial de alertar sobre a incidência de fogos e de dar os primeiros combates.
O projeto implementado pela Funatura também engloba um plano de recuperação para 30 hectares de áreas degradadas pelos incêndios de 2020.