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Sabor e consciência
Foto: Unplash
Na hora de ir à feira para comprar um pescado para cozinhar, se bater a vontade de comer um polvo, bom apetite. Agora, se o desejo é por uma pescada-amarela, não vá exagerar.
No final de fevereiro, começou a circular nas redes sociais e pelo whatsapp o Guia de Consumo Sustentável de Pescado Marinho. Produzido por pesquisadores do projeto “Enfoque ecotrófico e socioeconômico como ferramentas para subsidiar ações de manejo dos recursos pesqueiros”, o livreto digital veio para dar uma mãozinha a quem se preocupa com os impactos de suas escolhas alimentares. Tanto para a conservação das espécies, como para a própria saúde.
“Que eu tenha conhecimento, esse é o primeiro guia de consumo de pescado que aborda de forma integrada a ameaça de extinção das espécies, o risco ecotoxicológico do consumo da carne pelo consumidor, o papel ecossistêmico do pescado e a legislação vigente”, afirma o pesquisador e coordenador do projeto, Marcelo Vianna.
Para chegar às quatro classificações que o guia traz – Não consuma; Evite; Consuma com Moderação; e Bom apetite – o time de pesquisadores percorreu várias etapas. A primeira delas começou com a análise de diferentes guias de consumo que já existiam no Brasil e no mundo, e que serviram como referências iniciais para o novo produto que estava em gestação.
Depois, mergulharam nos dados de monitoramento de pesca feito pela Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ). Selecionaram as principais categorias de pescado registradas nos desembarques, e consideraram especialmente as que têm ampla ocorrência nacional.
Era o momento, então, de colocar uma lupa sobre cada uma das espécies. Além de consultar a legislação nacional e parâmetros populacionais, os pesquisadores também recorreram às listas de espécies ameaçadas. E levantaram informações sobre pescados que, em decorrência da poluição dos oceanos, trazem em seu organismo resíduos perigosos para a saúde humana.
“O guia é a sinergia desse conjunto de informações e análises”, diz Marcelo. As análises do próprio projeto, aliás, também foram aproveitadas para a classificação dos pescados. “Utilizamos nossas pesquisas ecossistêmicas para orientar quais espécies suportam aumento na captura e quais não podem ter mudança no nível de explotação pesqueira”, explica.
A abordagem transversal de dados e aspectos deixa mais evidentes as relações entre a saúde humana e ambiental. “Quisemos mostrar que o consumo inadequado de alguns tipos de pescado é um problema não só para o ecossistema, mas também para o cidadão”, diz. “Em muitos casos, as mesmas espécies que apresentam ameaça de extinção, são as que possuem os maiores riscos ecotoxicológicos, como vários tubarões e raias”.
Produzido para ser acessado facilmente da tela do celular, seja na feira ou no mercado, o guia pretende ser um instrumento de consulta e conscientização das pessoas: para que preço, aparência e sabor não sejam mais os únicos critérios na hora de levar um peixe para a cozinha. “Acredito que o empoderamento do consumidor com informações sérias, provenientes de pesquisas de qualidade, é uma ferramenta importante de mudança de paradigma”, aposta Marcelo.
Para acessar o guia, clique aqui.