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Rios voadores
No céu do Norte do Brasil, correm rios tão ou mais caudalosos que o próprio Amazonas, considerado o maior do mundo em volume e extensão. Todos os anos, esses rios voadores se deslocam em correntes atmosféricas, levando a umidade do oceano e da floresta até o Sul do continente. O ciclo termina quando a água é devolvida em forma de chuvas, que regam as lavouras no Centro-oeste e reabastecem os repositórios de água do Sul e do Sudeste, regiões que concentram o maior número de usinas hidrelétricas.
Foi em 2016 que Michael Schucht, consultor do Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW), tomou conhecimento do fenômeno dos rios voadores. Nos últimos anos, este fenômeno foi objeto de pesquisas e investigação, em parte financiados pela PETROBRAS. Os pesquisadores Eneas Salati (ESALQ), Jose Marengo (CEMADEN) e Antônio D.Nobre (INPA / INPE) bem como o aviador Gerard Moss batizaram os fluxos atmosféricos de umidade tão ou mais caudalosos que o próprio rio Amazonas como “rios voadores”. O ciclo hidrológico mantido pelos “rios voadores” se completa quando a umidade/vapor d’água é devolvida em forma de chuvas, importantes para o agroegócio no Centro-Oeste, abastecem os lençóis freáticos e barragens do Sul e do Sudeste, regiões que concentram o maior número de usinas hidrelétricas.
Inspirados pelo 8o Fórum Mundial da Água, Schucht e o colega Thomas Hagenbrock – consultor da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ, na sigla original) – elaboraram uma proposta de documentário com Bettina Ehrhardt, produtora de televisão veterana na Alemanha. “A situação é dramática, mas não queríamos fazer um filme apenas sobre o problema. Era fundamental mostrar a beleza do Brasil, as alternativas para contornar essa situação e os métodos agroflorestais, herança indígena fundamental para preservar os serviços da floresta”, explica Bettina, diretora e roteirista.
O filme, de 26 minutos, mostra que os rios voadores levam mais água paro o sul do continente do que o rio Amazonas desemboca no mar. Cerca de 70% das águas que chegam ao Centro-oeste, Sudeste e Sul brotam de uma verdadeira dança meteorológica: a evaporação do oceano Atlântico na faixa do Equador forma uma corrente úmida que é sugada pela floresta. A floresta, por sua vez, libera mais umidade ainda na atmosfera. Combinada, essa massa de umidade desce em direção à cordilheira do Andes, onde é redirecionada ao Centro e ao Sul do Brasil. No caminho, gera precipitações na cabeceira do Rio Amazonas e outras bacias no Paraguai, Argentina e Uruguai.
O financiamento do filme, que estreou em março no Fórum Mundial da Água, veio do governo da Alemanha por meio da GIZ, a agência de cooperação alemã. Os criadores esperam popularizar o conceito dos rios voadores e mostrar como o desmatamento, as queimadas e a seca na floresta já estão mudando o ciclo das chuvas em todo o país, colocando em risco a economia brasileira e o clima global. Daí a importância de programas como o ARPA para a manutenção desses fenômenos naturais.
Schucht destaca que nem mesmo os empresários do agronegócio sabem dos riscos que correm ao defender o desmatamento da Amazônia para aumento de produção. “Eles estão cavando a própria cova. Sem chuva não há agricultura”, diz.
Foram entrevistados para o filme especialistas como Nobre; Stefan Wolff, meteorologista do Instituto Max Planck que realiza pesquisas sobre clima na Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em Inglês), comunitários de unidades de conservação e autoridades políticas de ambos os países, como o então ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho e o diretor da divisão sul-americana do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento Alemão, Cristoph Rauh.
O filme será exibido pela TV Brasil. Mas como o objetivo principal dos criadores é divulgar o assunto, o documentário também está disponível online, nas versões em Português e Inglês. Para assistir, basta clicar aqui.