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Paixão pelo pequi transforma vida de Tina Pequitina em projeto apoiado pelo Programa COPAÍBAS
Vicentina Bispo, de 66 anos, moradora do Cerrado mineiro, tem sua história de vida marcada pela presença do pequi. Na infância e na adolescência, ela e os irmãos passavam os finais de semana, feriados e qualquer dia de folga no rancho da família, um pedaço de terra no distrito de Pandeiros, a 50 quilômetros da cidade de Januária. A paisagem era marcada pela presença de grandes pequizeiros, árvores nativas da região, de onde ela catava os frutos, levados em grandes bacias.
Vicentina voltava para a casa da cidade carregada de pequi e já naquela época se via pensando em como seria bom poder criar receitas com o fruto símbolo do Cerrado. De polpa amarela, com espinhos e aroma marcante, o fruto de sabor intenso faz parte da culinária da região.
“Era tanto pequi que ele era usado até para alimentar os animais. Não me conformava em ver que não podíamos aproveitar. A gente tinha de fazer alguma coisa com todos aqueles frutos”, diz Vicentina, que se formou professora e durante boa parte da vida adulta deixou de lado o sonho de viver do pequi. Hoje ela participa de ações do Núcleo do Pequi, uma das cooperativas com projetos apoiados pelo Programa COPAÍBAS.
A oportunidade de voltar a pensar nos antigos planos veio num momento de tristeza. Aos 43 anos, Vicentina teve problemas nas cordas vocais e precisou deixar para trás a rotina em sala de aula. Na busca por uma outra ocupação, decidiu fazer um curso de agroindústria. Num dos trabalhos de turma, o desafio era apresentar alguma receita diferente, usando frutas, legumes ou sementes da região. Foi quando ela inventou uma farofa de pequi, surpreendendo o professor e tornando-se, a partir daí, uma especialista em criar quitutes, guloseimas e pratos com o fruto do Cerrado. Depois de muitos testes no fogão, Tina conseguiu que a farofa atingisse uma consistência que permite o uso do pequi como base para a receita de diversos pratos.
“Tenho muito orgulho de dizer que minhas criações foram parar na universidade e fazem sucesso em todo o país. Eu adoro pequi. Como quase todo dia. E digo para todo mundo: pequi é melhor que sushi”, brinca.
A intimidade e a paixão com o fruto é tanta, que ela passou a ser conhecida como Tina Pequitina. Pequitina, por sinal, foi o nome dado à farofa de pequi que ela faz e comercializa desde então. A farofa, ensina, pode ser combinada com várias iguarias da culinária brasileira como feijão tropeiro, carne de sol e churrasco.
Em sua cozinha, Tina Pequitina já fez muitos experimentos com o fruto, a maioria deles vendidos em feiras e exposições e em sua pequena loja, instalada no terreno de casa: pequi na conserva, castanha de pequi cristalizada, mousse de pequi, compota de pequi, geleia de maracujá do mato com castanha de pequi… A criatividade da cozinheira não tem limites quando envolve o fruto. A última invenção foi uma barrinha de cereais que leva pequi, baru, gergelim e mel. Muitos destes produtos já foram divulgados por ela em encontros e exposições pelo Brasil e até no exterior. Tina já esteve na Itália mostrando as potencialidades do pequi numa feira de alimentos.
“Nosso Cerrado tem muitos frutos naturais que matam a fome e melhoram a renda das pessoas que vivem por aqui, por isso precisamos preservar e valorizar nossa região”, ensina a cozinheira.
O Programa COPAÍBAS apoia os coletores de pequi e os produtores da agroindústria ao fortalecer arranjos produtivos e investimentos estratégicos em cadeias de valor da sociobiodiversidade. Ele faz isso por meio de projetos de instituições como o Núcleo do Pequi, a Associação Quilombo Kalunga, o COOPCERRADO e outras 13 que atuam no Cerrado.
A riqueza o Pequi
O fruto nativo da região também é conhecido como: piqui, pequiá, piquiá, piquiá-bravo, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, pequiá-pedra, pequerim e suari.
Ele é de grande importância para a economia de populações agroextrativistas do Cerrado. Além da culinária (o prato mais famoso é o arroz com pequi), o fruto também é aproveitado em artesanato (a casca fornece uma tinta usada para tingir algodão). As sementes que têm propriedades aromáticas e são usadas para a produção de óleo e preparo de licores.
O extrativismo de pequi gera renda para muitas famílias do Cerrado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a extração do pequi no Brasil em 2021 foi de mais de 74 mil toneladas. Minas Gerais foi o estado responsável por mais da metade da produção nacional. De acordo com dados da Embrapa, esses números podem ser ainda maiores, já que a maior parte da comercialização do fruto acontece no mercado informal.
Foto: Acervo pessoal