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Sementes Crioulas e agroecologia criam novas oportunidades para produtores
Marcia, Rudimar, Anderson e Aline, família de agricultores vivem em Santa Cruz do Sul, no RS, e encontraram nas sementes crioulas uma nova e mais saudável alternativa de vida. Durante 15 anos a família Burghardt sobreviveu do cultivo do tabaco, uma das principais atividades de pequenos produtores da região, que, segundo o sindicato da indústria (Sinditabaco), está entre as maiores produtoras do Brasil. Assim como os Burghardt, outras famílias trocaram a cultura que envolve o uso de agrotóxicos pela agroecologia com sementes crioulas. Há dez mil anos, quando o homem iniciou o cultivo de vegetais que permitiu abandonar o nomadismo, teve início a seleção de sementes mais resistentes, as chamadas sementes crioulas. Elas são um valioso patrimônio genético e cultural, e seu uso é apoiado por um projeto do TFCA.
Foto: Anderson, Aline, Rudimar e Marcia – Daniela Leite/Funbio
Em 2011, a família se deparou com dois problemas: Marcia viu o marido Rudimar adoecer gravemente e quase ficar paraplégico. No mesmo período, enfrentaram dificuldades financeiras por conta de uma dívida. Mas ela não desanimou: no ano seguinte, apresentada por uma amiga ao projeto Sementes Crioulas, Sementes da Vida, deixou de lado o temor inicial de que sementes crioulas proporcionariam retorno menor e decidiu embarcar na ideia.
“Tenho uma gratidão enorme. Eu e minha família nos sentimos realizados por fazer parte do projeto. Ao contrário do que imaginava, as sementes crioulas de milho, feijão e batata-doce trouxeram faturamento maior do que tínhamos. E sem os agrotóxicos. Acreditamos que o projeto ainda vai nos ajudar muito”, disse ela.
A partir do Sementes Crioulas Sementes da Vida, decidiu arrancar pela raiz as plantações de tabaco da sua propriedade de 4,75 hectares. Preencheu o vazio com produtos orgânicos. Hoje, a família lucra cerca de R$ 40 mil por ano com as vendas, graças as técnicas de agroecologia ensinadas pelo projeto, executado pela Diocese de Santa Cruz do Sul (ASDISC).
O Funbio, por meio do Tropical Forest Conservation Act (TFCA), desde 2016 apoia o banco de sementes com mais de 100 variedades de plantas mantido pelo projeto. As sementes crioulas são passadas de geração em geração por agricultores familiares, indígenas e quilombolas. Além do banco, o projeto capacita cerca de 65 jovens de 17 a 26 anos em técnicas agroecológicas para o resgatar o uso das sementes no Rio Grande do Sul.
Anderson, de 21 anos, é um deles e se tornou guardião das sementes: frequenta a Escola de Jovens Rurais (EJR), também apoiada pelo projeto e ganha pequenos incentivos financeiros para projetos de agricultura.
Em 2017, graças aos bons resultados – o projeto alcançou 83% da execução prevista – receberá aporte adicional do TFCA até meados de 2018.