Alimentos, tintas, chás medicinais, óleos cosméticos, matéria-prima para artesanato, sementes e castanhas para venda… Valendo-se dos conhecimentos de botânica construídos ao longo de gerações, os Kayapó retiram da flora amazônica diversos insumos importantes para viver na floresta. Contribuir para o processo de transmissão desta sabedoria ancestral e agregar novas informações a ela foi o objetivo de uma das ações realizadas pelo Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental, em parceria com o Instituto Kabu, administrado pelos indígenas.

Entre os dias 25 e 30 de outubro, foi realizada na aldeia Kubenkôkre, localizada na Terra Indígena (TI) Menkragnoti, uma oficina na qual 15 jovens do povo Kayapó aprenderam diferentes aspectos do processo de plantio e cultivo de espécies com grande valor cultural e econômico para os indígenas. Entre elas, o cumaru, conhecido como “baunilha da Amazônia”, cuja semente é vendida para a indústria de cosméticos; a castanheira, da qual se extrai a castanha do Brasil para alimentação e venda; além dos “pés” de pequi, mapati (a “uva da Amazônia”) e jenipapo, este último fonte não só de nutrientes, mas também de tinta para pinturas corporais.

Os jovens tiveram aulas teóricas e práticas sobre o processo de coleta, preparação e plantio das sementes, além do cultivo, remanejamento e fertilização das mudas plantadas no viveiro da aldeia. Ao final, receberam certificados de participação no curso. Mais importante que o documento, porém, é a capacidade de contribuir para aumentar a segurança alimentar na aldeia, bem como para sua capacidade de gerar renda e, portanto, para a preservação do modo de vida tradicional dos indígenas.

“A gente só usava as nossas técnicas, então, aprender essas novas formas de plantio nos ajudou demais. E tudo o que aprendemos já está sendo colocado em prática nas plantações da aldeia”, explica Po Yre Mekragnotire, que também ajudou na tradução das aulas para o idioma dos Kayapó.

Outro resultado concreto da ação do TFA com o Instituto Kabu será a edição de uma cartilha  que reunirá boa parte desse conhecimento de botânica e de agrobiodiversidade, conceito que trata do cultivo combinado de diferentes espécies. Desenhos das plantas feitos pelos jovens participantes vão ilustrar a publicação. Este registro será uma ferramenta importante para a valorização e conservação dessa valiosa expertise.

Que belas mudas cresçam, enfeitem e sigam dando frutos para os Kayapó.