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Em encontro raro, indígenas debatem pela 1ª vez a gestão da maior TI do povo Kayapó
Foto: Acervo TFA
No aniversário dos 30 anos de demarcação da maior das seis terras indígenas do território Kayapó, a Menkragnoti, representantes de 17 aldeias se reuniram para celebrar e, pela primeira vez, planejar sua gestão. O encontro, raro dada a sua dimensão, ocorreu entre os dias 9 e 11 de agosto durante a 1ª Oficina Geral sobre o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Menkragnoti, que se estende por 4,9 milhões de hectares no sul do Pará (com uma pequena faixa no norte de Mato Grosso) e é lar de aproximadamente 1,7 mil integrantes da etnia. Trata-se de um esforço fundamental para o futuro da cultura, do território e do povo Mebêngôkre-Kayapó.
Cerca de 120 indígenas – entre os quais mulheres e jovens – de todas as 16 aldeias da TI Menkragnoti participaram do evento na aldeia Kubenkokre. Havia também representantes de uma aldeia da terra indígena contígua, a Baú.
Ao longo dos três dias de evento, foram apresentados um panorama geral da realidade socioambiental, econômica e política da terra indígena em questão, assim como os principais conceitos, princípios e temas que orientam a elaboração do PGTA, principal ferramenta de apoio à gestão de uma terra indígena. Os indígenas, então, identificaram, discutiram e alinharam as prioridades na administração da TI Menkragnoti a partir de informações levantadas em reuniões virtuais prévias e pelas consultoras contratadas para auxiliar na formatação do documento. Houve ainda momentos de celebração em que os indígenas cantaram, dançaram, conversaram e se divertiram.
Coube ao projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental, e às entidades representativas do povo Kayapó – institutos Kabu e Raoni, e Associação Floresta Protegida – a organização do evento e o apoio logístico para viabilizá-lo.
“Esse encontro foi muito importante para nós. Não víamos os nossos parentes (forma como os kayapó se referem a indígenas de seu povo) há mais de 15 anos. Com o apoio do TFA, da Petrobras e das organizações indígenas, pensamos no futuro que queremos construir, partindo do fortalecimento da nossa cultura e das nossas tradições. Assim, começamos a escrever o nosso próprio documento, o PGTA, que nos ajudará a seguir vivendo em nossa terra”, explica Doto Takak-Ire, relações públicas do Instituto Kabu e um dos organizadores da Oficina.
O PGTA é um documento elaborado pelos próprios indígenas, a partir de princípios e diretrizes da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), como o da sustentabilidade. Uma das suas funções mais relevantes é indicar como devem ser utilizados os recursos naturais ali existentes para assegurar qualidade de vida a esses povos, bem como sua preservação física e cultural. Ele aponta ainda como devem ser atendidas as necessidades de educação, saúde, segurança e geração de renda dos povos que habitam a terra indígena. Trata-se de um instrumento tão importante que os indígenas o chamam de “plano de vida”.
Além das lideranças indígenas, representantes do Tradição e Futuro na Amazônia, do Programa Petrobras Socioambiental também acompanharam a Oficina Geral, a primeira de três que serão realizadas. Posteriormente, deverão ocorrer oito oficinas regionais, de menor porte, para aprofundamento das questões discutidas nas oficinas gerais. O PGTA da TI Menkragnoti deverá ficar pronto em 2023.