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Em busca da harmonia
Em 2014, quando Cecil Roberto de Maya foi escolhido para ser o gestor da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, em Santa Catarina, havia um grande desafio: mediar a relação entre setores da região para consolidar o plano de manejo da área. A implementação desses regramentos costuma ser um longo processo pela diversidade de atores e interesses em conflito.
“Para mim, o modelo de governança importa muito mais do que os regramentos em si. As regras tendem a ser atualizadas, conforme novidades surgem no horizonte; já o modelo de governança necessita consistência e continuidade ao longo do tempo. Se você não cria uma filosofia de conciliação, o trabalho não terá legitimidade nem capilaridade”, reflete Cecil.
No tom de sua fala e expressão estão marcadas a ponderação, o tempo pausado para a escuta e a reflexão antes de cada frase. São sinais como esses que mostram o porquê, quase 4 anos depois, de a aprovação do plano estar praticamente consolidada.
O gestor conta que foi um dos processos mais desafiadores de sua carreira: equilibrar cobranças e expectativas de diversas partes como sociedade civil, Ministério Público Federal, gestões municipais, o próprio ICMBio, entre outros. “Mas as condições que tive foram as melhores: recursos consistentes por meio do GEF Mar, uma equipe competente e bom planejamento e fundamentação conceitual em relação ao plano”, conta.
“Houve momentos em que setores produtivos relevantes poderiam ter sido excluídos. Mas isso não traria bons frutos, poderia deixar a implementação mais difícil, instável. Conseguimos mostrar a todos que a exclusão de um não significa a vitória de outro”, pondera.
A trajetória de Cecil também dá indícios de sua capacidade de facilitar o entendimento entre interesses tão distintos, como no caso da APA da Baleia Franca. O segredo: unir produção e uso dos recursos naturais em regiões com objetivos fortes de conservação da biodiversidade, enxergando-a por outro prisma – o da sustentabilidade.
Biólogo de formação, se especializou em desenvolvimento sustentável após o início de sua trajetória profissional, no início dos anos 2000, em Mucuri, litoral sul da Bahia. Ali, desenvolveu e gerenciou políticas públicas de geração de trabalho, renda e conservação ambiental dentro de um contexto de desenvolvimento local.
“Aprendi muito com as comunidades tradicionais em Mucuri, com os catadores de caranguejo. Entendi rapidamente a importância de pensar no desenvolvimento sustentável, na geração de renda para fortalecer populações mais ‘frágeis’, política e economicamente falando, como forma de implementar a conservação ambiental”, conta.
O biólogo sintetiza sua busca ao longo desses quase 20 anos de atividade com um chamado à harmonia: “só será possível proteger o meio ambiente e combater a desigualdade que enfraquece as comunidades se fortalecermos o vínculo de todos os envolvidos com a unidade de conservação, com o território, independente de quem seja”.