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De xerife a mãezona do Atol das Rocas
Qual é a fórmula para se manter um casamento? Tem que ter amor? Querer estar sempre junto? Zelar pelo outro? Pois o casamento de Maurizélia de Brito, a Zelinha, com o Atol das Rocas tem tudo isso. E dessa forma já dura seus 28 anos de dedicação pela primeira unidade de conservação marinha do Brasil.
Zelinha chegou ao atol em 1991, aos 25 anos. Em 1995 assumiu a chefia da reserva e nunca mais saiu. “Acho que enlouqueci com o excesso de beleza. Parecia o filme A lagoa azul”, relembra com encanto a primeira vez que seu pai, então delegado substituto do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), a levou até o atol, ainda em 1979.
Mas o começo desse relacionamento foi difícil. Zelinha enfrentou muitos medos: de morrer afogada, de fantasmas e da escuridão da noite no atol. E os inúmeros confrontos com os pescadores. Principalmente pelo fato de ser mulher em um lugar até então predominantemente masculino.
Para superar o medo, Zelinha precisou se adaptar. “Eu fui criando personagens para conseguir encarar aquelas situações. Morria de medo, mas fingia que eu era braba, que não tinha medo nenhum”, conta a gestora, que chegou, por isso, a receber o apelido de “xerife do mar”.
Hoje, com mais de 90% da pesca ilegal reduzida na região, outros problemas precisam da atenção de Zelinha. Morando em Natal, a 267 km de seu grande amor, ela não desliga do trabalho nem na folga. Segundo ela, “todo dia é segunda-feira no atol” e é preciso tomar cuidado com problemas como saudade e depressão. Nesse momento entra a figura materna da gestora.
“Eu mantenho contato com minha equipe todo dia, três vezes ao dia. Ligo perguntando se estão bem, se alimentando direito. Se eu não ligar, eles se sentem abandonados”, revela a gestora.
E se a receita para manter a paixão viva é a novidade, o casamento de Zelinha com o atol tem tudo o que precisa para prosperar ainda mais. “Não tem um dia que eu chegue para minha equipe e diga que está igual a ontem. Cada dia aqui é único”, relata, com o mesmo entusiasmo da menina que viu o atol há 40 anos e se encantou.
Sobre a aposentadoria, ela sabe que um dia vai precisar deixar alguém em seu lugar, mas não quer nem pensar nisso agora. “O que eu sei fazer da minha vida é cuidar do atol e eu sou muito feliz fazendo isso”, afirma.