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Conservando o amanhã: os Kayapós e o Tradição e Futuro na Amazônia estão juntos nessa missão
Foto: Gabriella Furtado/FUNBIO
O povo Mebêngrôke-Kayapó é conhecido pela determinação na defesa de sua cultura e proteção da floresta e de seu território. E para apoiá-los nesta missão, foi criado o projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), que desde dezembro de 2020 trabalha para contribuir para a gestão territorial e ambiental de cinco Terras Indígenas (TIs) distribuídas entre os estados do Pará e Mato Grosso. A área de atuação da iniciativa é conhecida pela grande concentração de estoque de carbono, e, por isso, protegê-la também é uma das estratégias para ajudar a conter as mudanças climáticas.
Executado pelo FUNBIO e patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental, o TFA conta com três eixos de atuação: estratégico, tático e operacional. Até o momento, estão previstas atividades ligadas à educação ambiental com jovens, mulheres e crianças, público com menor participação nas decisões políticas e financeiras, além de intercâmbios entre educadores indígenas e não-indígenas.
De acordo com Matsipaya Waura Txucarramãe, jovem liderança e articulador no Instituto Raoni, o projeto reforçará o papel de novas gerações de indígenas para perpetuar suas tradições. “Nós teremos a oportunidade de oferecer protagonismo aos jovens por meio do fortalecimento do conhecimento e valorização da cultura Kayapó”, afirma. Ao todo, 650 pessoas estão envolvidas diretamente para realizar a iniciativa e este número poderá chegar a mil até o final de 2022, quando o projeto tem previsão de conclusão.
Pelo Tradição e Futuro na Amazônia, as cinco TIs Kayapó contempladas são a Capoto/Jarina, a Menkragnoti, a Las Casas, a Kayapó e a Baú, e estão distribuídas em 12 municípios: São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Peixoto de Azevedo e Matupá (MT) e Bannach, Cumaru do Norte, São Félix do Xingu, Ourilândia do Norte, Altamira, Redenção, Pau D’Arco e Floresta do Araguaia (PA).
Instituto Kabu, Instituto Raoni e Associação Floresta Protegida são parceiros do projeto e responsáveis pela interlocução direta com as aldeias. O coordenador do projeto no FUNBIO, Dante Novaes, já identifica alguns reflexos positivos neste primeiro semestre de atividades. “Houve um fortalecimento das articulações entre as próprias organizações, com cada uma delas percebendo que pode atuar de forma paralela e complementar nas atividades com os Kayapó”, diz.
Gestão e proteção dos territórios
Uma das ações previstas no Tradição e Futuro na Amazônia mais aguardadas pelos Kayapós é o avanço no planejamento e na implementação do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA). Ele faz parte do eixo tático do projeto e é a principal ferramenta da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), elaborada a partir das lutas e demandas dos povos indígenas.
Nesta etapa, o objetivo é fazer o planejamento, que é a parte final do processo de elaboração do PGTA. O planejamento viabilizará iniciativas voltadas para a resolução de problemas e o desenvolvimento de potencialidades que fortaleçam a gestão territorial e ambiental da região. “Este trabalho será precursor, pois envolverá as três organizações indígenas com o foco na elaboração do PGTA de uma Terra Indígena de atuação de todos”, afirma Thiago Schinaider, coordenador executivo da Associação Floresta Protegida. “Trabalhando em conjunto conseguiremos estabelecer uma metodologia única para compreender o território em todos os seus aspectos”, completa Thiago.
Já pelo eixo operacional, o TFA também irá desenvolver atividades relacionadas ao levantamento e monitoramento do estoque de carbono e ao fortalecimento de sistemas produtivos sustentáveis. Por meio de subsídios técnicos e materiais, a expectativa é avançar desde a qualidade nutricional até a comercialização da produção excedente dos Kayapós. “O projeto será muito importante para aumentar as atividades produtivas realizadas principalmente pelas mulheres, como a coleta de castanha e cumaru, e que são fundamentais para o funcionamento da aldeia”, esclarece Pho Yre Karopi, vice-diretor executivo do Instituto Kabu.
Afinal, como as Terras Indígenas contribuem para preservação da natureza?
Os números não mentem: segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento feito até 2020 em Terras Indígenas na Amazônia equivale a 1,58% de sua área total, que é de pouco mais de 1,15 milhão de quilômetros quadrados (km²). Já em unidades de conservação do tipo Área de Proteção Ambiental, o problema corresponde a 22,93% de uma extensão de 186,8 mil km².
Atualmente, os Mebêngrôke-Kayapó habitam 74 comunidades localizadas em seis TIs, ao longo do curso superior dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de outros afluentes do rio Xingu. Suas terras são particularmente importantes para a conservação, pois estão em uma região em que as densas áreas de mata amazônica se encontram e entrelaçam a áreas do Cerrado brasileiro.