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Como transmitir o conhecimento aos mais jovens? Ação na aldeia A’Ukre reuniu indígenas Kayapó de várias idades e discutiu o tema
Alguns Kayapó passam anos tentando assimilar o kukràdjà, o conhecimento ancestral acumulado pelo povo. A própria tradução do termo – “algo que leva muito tempo para aprender” – dá uma ideia do tamanho desse desafio. Um passo desse processo foi dado na aldeia A’Ukre, localizada na Terra Indígena Kayapó (PA), onde foi realizada mais uma ação do Tradição e Futuro na Amazônia, projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental, em parceria com a Associação Floresta Protegida.
Nela, foram organizadas oficinas em que anciãos, caciques e lideranças Kayapó conversaram e contaram histórias sobre as tradições e a cultura de seu povo aos indígenas mais jovens. Um dos objetivos foi mostrar a eles a enorme riqueza do kukràdjà Kayapó. A atividade reuniu 60 homens e 32 mulheres, que participaram separadamente das atividades por decisão própria.
Reunião dos homens Kayapó
Nos dois primeiros dias, as atividades foram voltadas para os homens. Os debates ocorreram na Ngá – a “Casa dos Guerreiros” – e foram conduzidos por indígenas mais velhos, como o antigo cacique Tumre Kayapó, além de Bengõti, Krwỳt, que exerce a função atualmente. Eles expressaram sua preocupação com a perda de interesse dos jovens pelas tradições e manifestaram a necessidade de que sejam promovidos encontros e reuniões que proporcionem momentos de diálogo e os aproximem de sua cultura. Ao longo dos dias, as lideranças também resgataram mitos e rituais da etnia, e contaram histórias e experiências vividas no passado.
Os jovens também tiveram o seu momento de fala. Incentivados pelo fotógrafo Pati Kayapó, eles fizeram perguntas e saciaram a curiosidade sobre as histórias contadas. Entre as quais o mito dos Kubẽnhẽpre, o povo-morcego que morava em cavernas e de quem os Kayapó herdaram tradições após derrotá-los em uma batalha. Seguiu-se, então, uma oficina onde todos puderam desenhar o que haviam escutado e aprendido nos últimos dias.
“Estou muito feliz de participar dessa oficina, onde escutamos as falas dos mais velhos sobre diversos temas da nossa cultura. Com os desenhos, garantiremos que as futuras gerações continuem tendo acesso a esse conhecimento”, explicou Tàkàktô Kayapó.
Atividade com as mulheres
O terceiro dia do evento foi dedicado às mulheres. Seguindo o mesmo formato, três anciãs contaram suas experiências em meio ao cotidiano feminino nas aldeias. Irepá Kayapó lembrou do processo tradicional de criação das crianças e os cuidados e rituais para evitar que ficassem doentes. Já Kôkônhêre Kayapó destacou como os alimentos produzidos na floresta são mais saudáveis que aqueles apresentados pelos kuben (não indígenas). As participantes também fizeram desenhos sobre três temas determinados: o modo de vida dos antigos, o cotidiano atual da aldeia e o futuro de seus filhos.
A jovem Nhakanga Kayapó deu o seu depoimento sobre a oficina: “Essas oficinas servem para nos incentivar a buscar nossas anciãs e para aprendermos sobre práticas tradicionais, de forma que elas não se percam”.
Ao final dos três dias de oficina, a comunidade se reuniu e celebrou a realização do evento, manifestando o desejo por novos encontros dessa natureza.