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Colheitas tradicionais e novos plantios: aldeias Kayapó recebem apoio na implementação de sistemas agroflorestais
Foto: Luís Carlos Sampaio/Instituto Kabu
O cheiro adocicado do cumaru maduro quando cai da árvore marca o início da safra desta semente. A espécie – Krem Yky, na língua Kayapó – é conhecida como a “baunilha da Amazônia”, por causa do aroma, semelhante ao da especiaria, exalado durante a época da florada, no início do inverno. Além do odor característico, é fácil identificá-la por sua estatura, já que o cumaru é considerado uma das árvores mais altas da Amazônia. A colheita desta e de outras espécies nativas, juntamente com o plantio de outras variedades, foi objeto de mais uma ação de campo do Tradição e Futuro na Amazônia (TFA). Com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, a iniciativa destina-se a implementar sistemas produtivos e agroflorestais nas aldeias atendidas pelo projeto.
É entre junho e outubro que os Kayapó usam seus conhecimentos tradicionais para encontrar os frutos entre as folhas secas no chão. Na colheita, buscam-se as boas sementes, que serão usadas pelos povos das aldeias e comercializadas. Os Kayapó produzem chás e remédios à base de cumaru para tratar gripes e resfriados. Mas a prática não é apenas uma tradição cultural: a semente também gera renda para as famílias das aldeias. A produção é vendida principalmente para empresas de perfumaria e cosméticos. Só nas aldeias associadas ao Instituto Kabu são recolhidas em média sete toneladas por ano, totalizando uma arrecadação de R$ 315 mil.
Para entender melhor este processo, o Instituto realizou, em agosto, uma ação em parceria com o TFA. Na Aldeia Pykany, 15 mulheres foram acompanhadas durante todo o processo da colheita do cumaru. “Depois da coleta, há ainda a secagem no sol, na sombra, a medição de umidade e o ensacamento dessas sementes. É um processo muito laborioso e as sementes são bem pesadas. Tirá-las da floresta e trazer para aldeia não é algo fácil”, explica Luís Carlos Sampaio, do Kabu.
Também em parceria com o Instituto foi realizada outra iniciativa, em outubro, na Aldeia Kubenkokre. Desta vez, foram oferecidas formações voltadas à produção de mudas e implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), com o plantio de espécies como pequi, laranja, limão e cacau, além daquelas já tradicionais para os Kayapó, como o próprio cumaru. O programa possibilitará maior aproveitamento das roças nas aldeias Kayapó, por meio do consórcio de culturas agrícolas e espécies arbóreas, promovendo o desenvolvimento adequado de cada espécie plantada no espaço. A ação inclui, ainda, a construção de um viveiro para as mudas em áreas mais próximas da aldeia. O objetivo é enriquecer os sistemas produtivos e, consequentemente, favorecer a soberania, a diversidade e a segurança alimentar nas comunidades.
O projeto Tradição e Futuro na Amazônia também realizou atividades voltadas para a capacitação, com foco na implementação de SAFs em 16 aldeias associadas ao Instituto Raoni. O processo começou na segunda quinzena de outubro, com a compra de mudas para o enriquecimento de quintais agroflorestais com plantas frutíferas e de espécies tradicionais já conhecidas pelos Kayapó. O TFA adquiriu equipamentos que potencializarão as atividades produtivas das comunidades beneficiadas e ofereceu assessoria técnica especializada para acompanhar as atividades.
SAFs unem tradição e novas tecnologias
A implementação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) tem por objetivo unir conhecimentos tradicionais às novas tecnologias existentes. Através da combinação, intencional e planejada, de cultivos diversificados e com ciclos temporais diferentes, os sistemas agroflorestais promovem o enriquecimento da produção local e a tornam mais sustentável, podendo também gerar novas fontes de renda.
As ações do TFA, voltadas ao fortalecimento das atividades produtivas do povo Kayapó, possibilitarão um melhor aproveitamento das roças nas aldeias. São cerca de 300 indígenas que residem em aldeias na Terra Indígena Capoto/Jarina. Toda esta população será impactada por esse conjunto de iniciativas que buscam implementar a produção de diferentes alimentos, tanto para ampliar a variedade de produtos da roça como para aumentar o consumo de frutos e seus subprodutos dentro das aldeias.
Com o término da primeira etapa, aproximadamente 5.500 mudas foram plantadas. O esperado é que até o final da implementação esse número se multiplique. Cada casa deve receber ao menos 10 mudas de árvores frutíferas, além de espécies florestais e outras, que são usadas como adubo verde.