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Coletivo de cineastas Kayapó constrói ponte entre modernidade e tradição
Formigas vermelhas e pretas que trabalham em grupo e têm mordida potente dão nome ao Coletivo Audiovisual Beture, criado em 2015. As cores são as mesmas que os guerreiros Mebêngôkre-Kayapó usam quando partem em uma missão. E é assim que muitos enxergam os integrantes do coletivo: uma equipe de guerreiros que usa o audiovisual para dar visibilidade à causa indígena e, em especial, à dos Kayapó.
A história deste povo com as câmeras não é recente. Desde o seu contato com os kuben (forma como chamam os não indígenas) no século XX, os Kayapó se aperfeiçoaram na produção audiovisual para registrar festas e rituais tradicionais de sua cultura. Com o passar dos anos, entretanto, a ferramenta ganhou novas funções e se tornou uma grande aliada da comunidade em sua necessidade de se manifestar e de se fazer ouvir.
Foi nesse contexto que o Coletivo Beture surgiu. Desde então, o grupo, formado em sua maioria por jovens indígenas, vem produzindo filmes que mostram festas e rituais tradicionais, eventos políticos e narrativas da mitologia Kayapó, além de coberturas fotográficas e audiovisuais para compartilhar nas aldeias o conhecimento adquirido dentro e fora de seu território (confira, no fim da matéria, alguns trabalhos do Coletivo Beture). No início de março, por exemplo, integrantes do Beture fizeram parte da expedição que viajou mais de 2 mil quilômetros para trocar experiências com o povo Ashaninka no Acre e registraram esse intercâmbio. As imagens serão mostradas nas aldeias Kayapó, assim como as de outras ações desenvolvidas e realizadas por projetos parceiros, como Tradição e Futuro na Amazônia (TFA). O grupo tem perfis no Instagram (link) e no Youtube (link), nos quais é possível conhecer um pouco de seu trabalho.
Exposição Mekukradjà abikàrà
Graças ao importante trabalho que vem realizando nos últimos anos, o Beture foi escolhido pelo TFA para fazer a curadoria da exposição Mekukradjà Abikàrà, que será realizada no final de 2023. Em uma tradução literal, a expressão significa “cultura impura” e será usada para propor uma reflexão sobre a convivência da tradição com a modernidade dentro das aldeias Kayapó, tema que permeia as atividades do próprio Coletivo.
A exposição terá um espaço de experiência social e temporal que apresentará tanto a cultura tradicional Mebêngôkre quanto sua realidade contemporânea. O público será guiado por vídeos, fotos, desenhos, imagens e até armadilhas que provocarão reflexões sobre ideias correntes entre os kuben (não indígenas), como a suposta incompatibilidade entre tradição e tecnologia, um elemento da modernidade.
“Os Kayapó são um grupo que consome muito a cultura dos kuben (não indígenas) e integram isso nas tradições deles. Por isso que hoje encontramos rap e forró na língua Kayapó, grafiteiros, pintores. Tudo tem a ver com essa cultura em transformação”, explica Simone Giovine, cineasta e um dos fundadores do Beture, que por si só é fruto desse inevitável e rico intercâmbio de conhecimentos.
Alguns dos vídeos desenvolvidos pelo Coletivo Beture:
– Memybijok – A Festa dos Homens
– Meõ nire o kaprãn – A Mulher Tartaruga
– Gwaj ba nhõ pyka – A Nossa Terra
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