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Ciência Cidadã: população é protagonista no monitoramento da restauração
A metodologia Ciência Cidadã está sendo usada de forma inédita na Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra para monitorar as ações implementadas pelo projeto Restauração estratégica e participativa no Pantanal: APA Baía Negra. A metodologia propicia o contato direto entre comunidades locais e a equipe técnico-científica no projeto e reduz os custos de monitoramento.
“Uma das etapas mais custosas na implementação de ações de restauração é a do monitoramento”, destaca o biólogo Thiago Miguel, uma das lideranças no projeto pela ECOA. “A Ciência Cidadã possibilita que moradores se integrem, sintam-se parte do projeto e aprendam sobre os aspectos da restauração ambiental”, diz.
Como instrumento metodológico, a ECOA utiliza o aplicativo Sapelli. O app é instalado de forma gratuita em celulares. Com os aparelhos em mãos, monitores voluntários coletam informações sobre a restauração em 4 hectares degradados pela mineração e 47 hectares invadidos pela espécie leucena na APA Baía Negra, em Ladário (MS). Oriunda da América Central, dissemina-se por todo o Pantanal e inviabiliza o crescimento de espécies nativas.
O Sapelli foi elaborado pela equipe de pesquisa do laboratório de Ciência Cidadã Extrema (ExCiteS) da University College London. O uso permite avaliar a condição das áreas restauradas ou em restauração, monitorando o desenvolvimento de plantas, presença de animais, supressão de plantas exóticas e cobertura do solo.
A ferramenta digital é intuitiva e foi concebida como um jogo. O usuário percorre etapas e precisa tomar decisões simples em sequência até registrar a foto do que monitorar. A foto, georreferenciada, fica armazenada em uma base de dados em nuvem, que é acessível remotamente. Toda a sequência foi elaborada com imagens, fotografias ou ícones, o que permite que a coleta seja feita por pessoas não letradas ou com deficiência visual, bem como crianças ou idosos.
Monitores voluntários fazem visitas quinzenais para coleta de informações nos locais em que foram implantadas ações de restauração, como presença de plantas regenerantes, saúde de uma nascente, incidência de espécies exóticas, desenvolvimento de mudas nativas e se a planta está saudável, presença de animais ou se a cerca construída está em bom estado. “A Ciência Cidadã possibilita que a gente melhore o diálogo entre sociedade e academia, além de ser uma alternativa ao alto custo do monitoramento. Isso ainda reforça a autoestima das pessoas e fortalece o compromisso com a restauração”, ressalta Thiago Miguel.
Até o momento, foram plantadas 4 mil mudas de espécies nativas, como ipê-roxo (piúva), aroeira, angico-preto, figueira, saboneteira e tarumã. As espécies foram escolhidas por ocorrerem no local, serem efetivas na restauração e fazerem parte do cartão postal da APA, na qual vivem aproximadamente 36 famílias de pescadores tradicionais.
Galdino Rodrigues da Silva, pescador e morador local, é um dos monitores. Até ser voluntário no projeto, nunca tivera um telefone celular e desconhecia o manuseio de aplicativos ou técnicas de restauração. “Aprendi muito com o treinamento. Consegui tirar boas fotos e deu para entender bem como usar”, conta Silva, que recebeu um telefone celular financiado pelo projeto.
Os monitores, selecionados entre moradores locais, participaram de atividades prévias de coleta de lixo, manejo da leucena e plantio de mudas nativas. Também estiveram em oficinas de educação ambiental e foram capacitados a manusear o app.
“Nosso maior desafio era que a comunidade se envolvesse na restauração. E isso aconteceu. Já tínhamos uma relação de mais de quatro anos, e acredito que isso facilitou. As ações envolveram a comunidade e despertaram para a importância da conservação e restauração do Pantanal”, diz Thiago Miguel.