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GEF Terrestre viabiliza trabalho em rede pela recuperação do Pantanal
Trabalho em rede, comunitários como protagonistas de ações de recuperação vegetal e manejo integrado do fogo e um olhar para a conservação do Pantanal por inteiro. Assim foi o Seminário de Recuperação Vegetal em Unidades de Conservação no Pantanal, realizado às margens do Rio Cuiabá e no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) SESC Pantanal. De 21 a 23 de novembro, membros de 7 projetos apoiados pelo projeto GEF Terrestre trocaram experiências e vivenciaram as belezas únicas do bioma, em visitas de campo. Esse encontro também celebra 245 hectares, ou seja, 245 campos de futebol, em processo de recuperação no Pantanal, o dobro da previsão inicial do projeto. “O GEF Terrestre é um projeto de inovação porque ele atinge primeiramente biomas que historicamente não recebem tantos recursos como a Caatinga, o Pampa e o Pantanal. E também inova por unir diferentes estratégias e diferentes políticas públicas para a proteção desses biomas”, explica Rodolfo Marçal, gerente do GEF Terrestre no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).
Entre as ações realizadas pelo projeto estão a criação de novas unidades de conservação, ações de gestão dessas unidades criadas e recuperação de áreas degradadas.
Em destaque em todas as apresentações do seminário, a atuação de atores locais dos projetos que receberam recursos do GEF Terrestre. Como é o caso do AquaRela Pantanal, das Mulheres em Ação no Pantanal (MUPAN), ONG criada há 23 anos e a primeira do bioma a incorporar a questão de gênero. “Criar capacidade para que as comunidades sejam protagonistas esse é o trabalho que fazemos”, explica Áurea Garcia, coordenadora da MUPAN
Protagonismo que Miriam Amorim exerce como diretora da Associação de Moradores da comunidade de São Pedro de Joselândia, em Barão de Melgaço-MT, a uma hora de barco do hotel Sesc Porto Cercado, onde foi realizado o encontro. Desde 2021, ela afirma que é viveirista, com orgulho, função que passou a exercer por meio do AquaRela Pantanal. Para além da possibilidade de conseguir renda extra para sua família, por meio do trabalho com as mudas, ela exalta a mudança de vida que o cuidado com o Pantanal pode gerar.
“O projeto tirou uma senhora da depressão. Ela ficava só em casa. E hoje ela não vive sem esse trabalho. Saímos para coletar e aprendemos muito, com as pessoas e com a natureza. Não estamos só trabalhando, porque fazemos a todo tempo uma troca de saberes, com brincadeiras…”, conta ela.
Mobilização após devastação pelo fogo
Os recentes incêndios em larga escala no Pantanal ocuparam espaços na imprensa nacional e internacional. A devastação ocorrida pelo fogo em 2020, consumiu cerca de 45.000 km2 do bioma, o que corresponde 30 % da área total, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Era o começo do GEF Terrestre e seus recursos foram liberados na hora exata para a recuperação dessas áreas degradas, mas também para apoio em ações de Manejo Integrado do Fogo e na criação de brigadas comunitárias.
“O fogo passou em algumas áreas de uma forma muito forte, o banco de semente foi destruído, a capacidade de regeneração era muito baixa em algumas regiões. O GEF Terrestre contribui muito para esse processo de restauração, que sabemos que vai levar algumas décadas”, conta Betina Kellermann, do Insituto Homem Pantaneiro.
Thainan Bornato, que trabalha na unidade técnica do Ibama em Corumbá-MS, faz parte do PrevFogo e ressalta que os recursos do projeto foram fundamentais para formar novos brigadistas e mobilizar as comunidades que vivem do bioma Pantanal. Ela trabalha na Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, a primeira Unidade de Conservação de Uso Sustentável no Pantanal, que agrega conservação da biodiversidade e a sobrevivência das populações tradicionais.
“A gente não vai conseguir fazer restauração no Pantanal e Manejo Integrado do Fogo sem considerar o conhecimento das comunidades tradicionais. O papel dos recursos do GEF Terrestre foi também de apoiar essas brigadas voluntárias. Mantendo essas pessoas motivadas, capacitadas, com recursos, nem que seja para compra de material e combustível para apoiar elas. Dessa forma elas continuam defendendo seu território”, explica ela.
Thainan conta que respostas rápidas são fundamentais para que o fogo não avance e destrua as áreas que já têm sido recuperadas após a crise de 2020. E o papel dos comunitários é crucial para esse combate efetivo.
“As brigadas comunitárias são muito importantes para essa primeira resposta ser rápida, já que eles já estão ali na comunidade, no território deles. Com essa atuação, eles evitam que aquele incêndio ganhe grandes proporções. Quando os bombeiros chegarem lá ou quando o IBAMA Prev-Fogo chega, é muito mais fácil de combater”, conta.
Recuperação de um Pantanal por inteiro
O legado do projeto GEF Terrestre vai além do número de hectares recuperados. Permite conexões, novas relações entre os comunitários, membros da academia e projetos com histórico de trabalho no Pantanal. Clovis Vailant, do Instituto Gaia, reforça a percepção de Miriam e de Thainan. A recuperação vegetal é fonte de alegria e mobilização. “O GEF Terrestre nos permitiu chegar melhor às comunidades. Não há um mutirão de plantio que eles e elas não estejam com a gente. Você não vai ver ninguém plantando que não esteja sorrindo. A restauração é algo muito mobilizador. O grande legado do GEF para nós é de restauração do Pantanal por inteiro”, explica Clovis.