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Mulheres no protagonismo: GEF Terrestre vê aumento da participação feminina em tomadas de decisão
Mupan/Arquivo pessoal
No Brasil, as mulheres representam 51,8% da população, mas, em áreas rurais como as apoiadas pelo projeto, a desigualdade se traduz, por exemplo, no nível de educação, nas horas dedicadas ao trabalho. Mas quem ainda pensa que lugar de mulher é nos bastidores não conheceu a representatividade feminina nas ações realizadas em comunidades beneficiadas pelo Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a Biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre). A participação delas tem se tornado cada vez mais uma realidade: nos últimos 88 encontros, entre cursos, eventos e reuniões, as mulheres representaram sempre ao menos 50% do público. Em algumas ocasiões, esse percentual chegou a 93%.
Dos seis biomas brasileiros, o projeto atua na restauração e conservação de três deles, que são conhecidos também por terem a menor representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC): o Pampa com 2,9% de áreas protegidas, o Pantanal 4,6% (maior área alagável do planeta) e a Caatinga 9%. Implantada em 2018, a iniciativa é fruto de uma doação feita pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o FUNBIO como executor financeiro. Desde então, os resultados da atuação do GEF Terrestre vão além das paisagens e chegam até as comunidades locais.
Aos poucos, o público feminino se torna um importante agente nas tomadas de decisões e na construção coletiva do processo de recuperação das áreas degradadas. De acordo com Clarissa Pimenta, gerente do projeto no FUNBIO, cada vez mais o projeto busca formas de envolver mulheres nos processos decisórios e em atividades de geração de renda.
“Isso inclui, por exemplo, a realização de capacitações para a coleta, comercialização de sementes e a produção de mudas enfocando um grupo majoritariamente feminino. Além disso, também há a priorização da contratação de mulheres ou cooperativas lideradas por mulheres nos processos de aquisição de insumos ou prestação de serviços quando possível”, afirma.
A mudança gerada pelo empoderamento é celebrada em projetos formados 100% por mulheres, como é o caso da Mulheres em Ação pelo Pantanal (Mupan), criado em 2000 a partir da vontade envolver as mulheres na gestão dos recursos hídricos. “Por questões culturais, os homens têm resistência para lidar com o envolvimento de mulheres. Por vezes, elas não têm oportunidade de participar ou, quando têm, não conseguem se manter nesses espaços. Nos projetos que propomos e executamos, consideramos sempre a inserção de mulheres na discussão como forma de ampliar a participação delas nos processos de gestão dos recursos naturais”, analisa Áurea Garcia, diretora geral da Mupan.
Com apoio do GEF Terrestre, a organização atua com ações socioambientais, como capacitações e educação ambiental, e na estruturação do projeto piloto de Recuperação de Áreas Degradadas para áreas úmidas com base no conceito de macrohabitats, desenvolvendo a proposta na Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal. O resultado do trabalho desenvolvido por elas irá render um modelo para ser compartilhado e replicado por outras instituições. Segundo Áurea, o processo de seleção das famílias para colaborar com a restauração e fazer a gestão da rede de sementes e mudas do Pantanal evidenciou o protagonismo feminino: entre as 10 famílias escolhidas, nove são comandadas por mulheres.
“Buscamos olhar para essas possibilidades e, com elas, entender a importância de ter essas lideranças também em suas comunidades, além do interesse e disponibilidade das mulheres de participar de processos formativos e de desenvolvimento”, explica Áurea.
Outro movimento importante, recente e que mostra a força feminina em prol do meio ambiente foi a criação da Empreender Mandacaru, uma associação formada por 17 mulheres residentes do Assentamento Mandacaru, no estado de Pernambuco. O apoio do GEF Terrestre possibilitou a estruturação do grupo para que, futuramente, elas trabalhem na restauração de áreas degradadas.
O passo foi considerado pelo coordenador da iniciativa, Elias Carnelossi, como fundamental para o andamento da integração de gênero prevista em todos os processos da iniciativa. “Entendemos que a criação da associação fortalece e estimula o empoderamento e a vanguarda do trabalho feminino tem impactos na família e na comunidade. E também fortalece suas atividades, promove a organização social, autonomia, facilita parcerias, obtenção de financiamentos e recebimento de projetos futuros”, avalia.
O GEF Terrestre é realizado também em parceria do ICMBio, Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), e órgãos estaduais, sob coordenação técnica do Ministério do Meio Ambiente.
Meta do GEF Terrestre – Restauração dos Biomas Caatinga, Pampa e Pantanal
Original (em hectares)
5 mil hectares
Expectativa (em hectares)
6.475,4 hectares