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B de biscoito
Foto: Igor Daniel/Arquivo pessoal
Meu nome é Igor Daniel, sou estudante do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de Brasília e meu relacionamento com essa instituição já dura nove anos, entre graduação, mestrado e agora o doutorado. Foi durante meu segundo ano de graduação que me descobri bissexual. Muitas pessoas tacham ou encaram a bissexualidade como uma desculpa para não se assumirem gays ou uma fase de curiosidade e descobertas. Confesso que por vezes eu imaginava isso pra mim mesmo, até entender que tudo bem gostar de homens e mulheres.
A minha sexualidade nunca foi um fator determinante de como as pessoas me veem no meio acadêmico, embora ser homem possa ter contribuído para isso. Vejo, no meio científico, uma desigualdade muito maior entre gêneros do que entre orientações sexuais. Minha personalidade sempre foi o fator que melhor explicou a forma como me tratam na academia. Meu jeito de lidar com a burocracia e o voto de confiança das pessoas me permitiram ser presidente do Centro Acadêmico do curso de Biologia na graduação e, mais tarde, representante discente da pós-graduação no Colegiado do Programa e no Conselho do Instituto. Também me faço representar como ecólogo, professor, cientista e bissexual no meio político, fazendo minha voz ser ouvida nas frentes em que tenho propriedade de fala: meio ambiente, educação, valorização da ciência e luta LGBTQIA+.
Precisamos de maior visibilidade bi, inclusive na academia. Afinal o “B” da sigla LGBTQIA+ não é de “biscoito”, de “Beyoncé” ou de “Bats”, meus modelos de estudo. Não sou bi porque não me aceito ou porque considero uma fase ou estou em cima do muro. Sou bi porque a dicotomia de sexualidade não é um fator relevante para a minha preferência. Ter a visibilidade de pessoas bissexuais na academia pode gerar familiaridade para que jovens bi indecisos (não de sexualidade, mas de carreira) possam se ver num doutorado ou no meio científico.