BOLSAS FUNBIO – CONSERVANDO O FUTURO 2018

Notícias

30/09/2019

Papagaios-de-peito-roxo à vista

Em maio deste ano, a partir de informações de observadores de aves e conversas com moradores locais, Viviane Zulian chegou a uma localidade no oeste de Santa Catarina em que havia rumores da existência do ameaçado papagaio-de-peito-roxo. Postou-se num ponto alto e esperou por dias. A cada ruído, olhava para o céu na esperança de avistar os papagaios (Amazona vinacea), aos quais se dedica há oito anos. Foram horas de vigília, até o momento em que, do alto, ouviu o som inconfundível dos bichos. Foi tomada pela emoção:

– Comecei a pular, a gritar no rádio com minha colega que estava em outro ponto de observação! É uma satisfação muito grande. Quando se assiste ao declínio de uma espécie, ver um novo grupo dá alegria, esperança, indica que há uma chance – diz Viviane com um largo sorriso.

Viviane Zulian em campo, na localidade de Lebon Régis, Santa Catarina. Foto: Sara Regina Teixeira Félix

 

Com apoio do Programa Bolsas FUNBIO, Conservando o Futuro, ela fez o mapeamento inédito desse grupo até então desconhecido de 20 papagaios-de-peito-roxo. O grupo soma-se aos dez até então conhecidos na região.

Doutoranda em Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Viviane se dedica, desde à graduação, ao mapeamento da espécie numa região de Santa Catarina, estado em que se estima estar metade da população remanescente no país. Hoje, estima-se que haja menos de dez mil aves no mundo e, no Brasil, foram contados menos de cinco mil indivíduos.

Com cerca de 35 centímetros e 300 gramas, os papagaios-de-peito-roxo são valorizados como animais de estimação e são alvo do tráfico. Características como o caráter social, a facilidade de aprender a falar quase tão grande quanto à do papagaio-verdadeiro do Pantanal e a cor exuberante do peito que lhes dá nome os tornam cobiçados no mercado ilegal. Soma-se a isso a perda de habitat, e está criado o cenário que faz pairar sobre a espécie a ameaça de extinção.

O mapeamento do novo grupo é uma valiosa contribuição para o conhecimento da distribuição da ave, que vive apenas na Mata Atlântica, de Minas Gerais até a Argentina e Paraguai. A escassez de dados retroativos não permite ainda avaliar se há uma tendência de redução ou aumento da população.

– A cada vez que você descobre algo, surgem novas perguntas – diz Viviane, que viu o primeiro papagaio-de-peito-roxo há oito anos em Chapecó, quando trabalhava como voluntária.

Papagaio-de-peito-roxo registrado no dormitório de Guatambu, Santa Catarina. Foto: Viviane Zulian

 

O primeiro contato se transformou em paixão durante a graduação, evoluiu para o desenvolvimento de um método de contagem dos bichos no mestrado, e agora prossegue nos estudos que permitirão estimar e projetar a população no Oeste de Santa Catarina, onde já foram observados dormitórios com mais de 700 aves (o número pode oscilar de 20 a centenas, dependendo da disponibilidade de alimento). Os dados poderão subsidiar tomadores de decisão na formulação e na aplicação de estratégias futuras para a conservação do papagaio-de-peito-roxo

 

 

 

 

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