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Lá vem o sol
No final de outubro, Mariana Leitão estava numa reunião em Brasília quando o celular começou a apitar. “Tem um caminhão guincho chegando com o equipamento solar!”, avisava empolgada a equipe do Parque Nacional do Jaú, no Amazonas. Gestora da unidade, Mariana também aguardava ansiosa pela encomenda: com duas bases de apoio construídas em regiões isoladas, o Parna do Jaú sempre dependeu dos poluentes e barulhentos geradores a diesel para ter algumas horas de eletricidade no dia a dia.
Mariana não é a única gestora que está trocando o diesel pelo sol. Somente nos últimos dois anos, o ARPA desembolsou quase R$ 1 milhão em sistemas fotovoltaicos para iluminar cerca de 30 unidades de conservação na Amazônia. A queda recente nos preços dos componentes tem tornado a fonte cada vez mais competitiva e popular, especialmente em áreas remotas. Afinal, os tradicionais geradores movidos a combustível fóssil sempre pesaram no orçamento.
“A cada mês a gente costuma mandar 400 litros de diesel para a geração de energia em nossas duas bases”, calcula Mariana. Isso significa que, em um ano, o Parna do Jaú chega a desembolsar quase R$ 20 mil para garantir uma eletricidade que não passa de seis horas diárias – contra as 24 horas que o sistema solar possibilita. “Sem contar o barulho, que é terrível”, diz.
Na Estação Ecológica de Maracá, em Roraima, desde que os raios solares começaram a ser captados por placas fotovoltaicas, ainda em 2009, a unidade teve um salto na gestão. A energia 24 horas por dia possibilitou coisas muito simples, porém, importantes: celulares carregados, internet instalada e iluminação contínua garantiram uma melhora sensível na comunicação dos servidores.
“A disponibilidade de energia constante permitiu a presença da equipe por mais tempo nas bases de apoio, onde já podemos realizar atividades que antes eram exclusivamente de escritório, como responder e-mails e outras demandas por telefone. Para os pesquisadores também houve avanço, pois eles conseguem ordenar melhor suas atividades, carregar seus equipamentos e trabalhar na triagem do material após a chegada do campo no fim do dia”, explica Benjamim da Luz, chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio em Roraima.
A queda nos custos também foi um dos principais benefícios na Esec de Maracá. A geladeira que antes funcionava a gás foi trocada por uma elétrica, economizando cerca de sete botijões a cada mês. Com a energia mais estável, a queima de equipamentos elétricos também reduziu. E os geradores que antes demandavam uma média de 200 litros de diesel mensalmente agora são ligados apenas de forma complementar.
“Tudo isso nos desonerou imensamente. A operação geral da unidade caiu muito. E mesmo com a reposição das baterias do sistema solar – que deve ser feita a cada três, quatro anos – os gastos entre os sistemas a diesel e o fotovoltaico são incomparáveis”, afirma Benjamim.
Novos tempos
A lua de mel com os sistemas solares é algo recente no Brasil e, especialmente, na Amazônia. Ao longo da última década, a tecnologia ainda era cara, pouco difundida e com uma cartela bem restrita de fornecedores. Meia dúzia de gestores se aventuravam em testá-la nas unidades de conservação. E quando o faziam, nem sempre dava certo. Afinal, quase nada se sabia sobre o assunto.
Por volta de 2010, a Esec de Maracá fez ao FUNBIO o primeiro pedido de equipamentos solares. Os próprios servidores mergulharam na internet e começaram a pesquisar por conta própria. Solicitaram placas, baterias, inversores, tudo separadamente. “Nessa época não tinha uma especificação padrão para compra desses sistemas. As primeiras noites iluminadas e sem o barulho do gerador foram inesquecíveis. Mas a falta de uma orientação técnica resultou em algumas perdas de equipamentos”, conta Benjamim.
Isso mudou. No departamento de compras do FUNBIO, Marcelo Bitencourt da Fonseca começou a perceber que, na ponta, as aquisições mais antigas não estavam atendendo às demandas de forma apropriada. A interação com gestores e fornecedores foi aprimorando o processo: Marcelo montou uma rede de empresas conveniadas à Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e inverteu a lógica: agora, em vez de os gestores especificarem os equipamentos a serem comprados, eles devem dizer apenas quais as demandas energéticas da unidade. Desta forma, são os técnicos das próprias empresas que montam os sistemas adequados para cada realidade.
“Hoje eu recebo dos gestores uma demanda, não uma especificação. E com base nessa demanda, no consumo presente e futuro, as empresas montam uma solução de sistema fotovoltaico”, explica Marcelo. Segundo ele, o primeiro sistema de grande porte comprado desta forma foi justamente aquele recebido recentemente no Parna do Jaú. Na Esec de Maracá, os novos pedidos de equipamentos para expansão do sistema também foram feitos no novo modelo.
Marcelo ressalta que a entrega dos sistemas montados não significa que está tudo resolvido. Ele diz que os gestores devem se informar sobre o uso desses sistemas e, principalmente, contratar técnicos de confiança para a instalação deles. “Na dúvida, os gestores podem entrar em contato comigo, que tenho acesso direto aos fornecedores para qualquer auxílio técnico”, diz.
Pelo aumento no número de solicitações, o sol deve brilhar cada vez mais nas regiões remotas da Amazônia. “Para resolver o dia a dia da operação das unidades, os sistemas fotovoltaicos são uma solução fantástica”, garante Benjamim.