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Pesquisar para Conservar – UC apoiada pelo ARPA abriga mais de mil espécies de vertebrados
O bioma mais rico em biodiversidade do mundo guarda muitas perguntas. Por isso, algumas unidades de conservação apoiadas pelo ARPA destinam parte dos seus recursos para apoio e logística de projetos de pesquisa científica. Do Mato Grosso a Roraima, passando pelo Acre, já nasceram levantamentos inéditos de biodiversidade, descoberta de espécies, publicação de livros e até a descoberta de novos talentos para a gestão.
Viruá (RR): popularidade entre pesquisadores
No céu do Parque Nacional do Viruá, em Roraima, voam mais de 530 espécies de aves. Já nos rios e lagos, são pelo menos 500 tipos de peixe de água doce. Em seus 240 mil hectares, que integram floresta de terra firme e áreas úmidas, vivem pelo menos 1.257 espécies de vertebrados. Não por acaso, o Parque é a segunda unidade de conservação da Amazônia a emitir mais licenças para cientistas, perdendo apenas para a Floresta Nacional do Tapajós. De 2007 a 2014, foram 154 autorizações.
De acordo com Beatriz Lisboa, chefe de Pesquisa e Monitoramento do Núcleo de Gestão Integrada (NGI/ICMBio Roraima) e gestora da UC até junho de 2018, a popularidade pega carona no acesso facilitado. A BR-174 conecta o Viruá às cidades de Boa Vista, em Roraima, e Manaus, no Amazonas. “Somos o Parque Nacional mais procurado por cientistas, e estimamos que mais de 20 instituições de pesquisa já tenham passado por nós”, conta Beatriz.
Foi graças a um desses estudos, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que o Viruá se descobriu santuário de pássaros. Hoje, detém o título internacional de Área Importante para a Conservação de Aves (Important Bird Area). “Do dia para a noite, passamos a ser destino certo para a comunidade de observadores de pássaros, o que aumentou mais ainda o registro de alta qualidade desses animais”, conta Beatriz.
Foi então que nasceu a ideia do “Guia de Aves do Viruá”. Com lançamento previsto para este mês, a publicação traz fotos profissionais, realizadas por observadores e pesquisadores, das espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. “O que começou como uma pesquisa é agora instrumento de divulgação da biodiversidade, atividades de educação, e uma nova possibilidade de geração de renda para a comunidade local”, comemora Beatriz.
Chandless (AC): uma escola a céu aberto
Unidade que conta com o maior aporte de recursos para apoio de pesquisas científicas, o Parque Estadual Chandless, no Acre, é parceiro do programa de pós-graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre (UFAC) desde 2011. Assistir à palestra do gestor Jesus Rodrigues já faz até parte da grade curricular dos alunos recém-ingressos.
“Apresento o parque e suas demandas e coloco a nossa infraestrutura à disposição, tentando sempre encorajar pesquisas que atendam a uma necessidade do plano de manejo”, conta Rodrigues. Graças aos achados dos alunos, a gestão conhece melhor a população de morcegos e de mamíferos terrestres, como o tatu canastra, que habitam os 600 mil hectares do parque.
E vem mais por aí. A cada mês de novembro, a unidade recebe cerca de 20 mestrandos da disciplina Ecologia de Campo. “São duas semanas intensas de coleta de dados, com estudantes trabalhando até a madrugada, cada qual em sua pesquisa”, afirma.
Após a formatura, alguns alunos acabam voltando ao Chandless. É o caso de Luiz Borges, convidado para ser o ponto focal do monitoramento participativo da biodiversidade da UC, uma exigência do ARPA para as unidades que realizam o protocolo de monitoramento básico. “Ele vem fazendo um excelente trabalho com os comunitários e faz a diferença na equipe”, diz Rodrigues.
Rio Ronuro (MT): o empurrão que faltava
No Mato Grosso, a chegada da academia tirou a Estação Ecológica Rio Ronuro do marasmo. Gestor desde 2005, Elder Monteiro Antunes buscava instituições que realizassem um estudo sobre a biodiversidade da região. “O único levantamento que tínhamos era da década de 1980”, relata.
Em 2016, um mutirão de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) finalmente chegou à Esec através de um acordo de cooperação técnica. Foram dois anos estudando a ocorrência de mamíferos, insetos, fungos, aves e espécies da flora.
Cercados por propriedades produtoras de soja, os 100 mil hectares da UC revelaram uma abundância de biodiversidade que surpreendeu os pesquisadores e a própria gestão. Uma nova espécie de orquídea foi identificada, bem como oito novas variedades de abelhas sociais sem ferrão. Dentre os mamíferos de médio e grande porte, foram detectadas 27 espécies, das quais nove constam da lista internacional das ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e o macaco-aranha-de-cara-branca.
Os achados dos estudantes da UFMT já resultaram em dois produtos: o livro “Biodiversidade da Esec Rio Ronuro”, e o “Guia de Espécies Arbóreas”.